sexta-feira, 13 de novembro de 2009

DESCONFIANÇA DAS PALAVRAS

Ela é um corolário da insistência de Tiago na ação concreta. Nesta perspectiva, um dos grandes perigos que ameaçam a vida cristã é o “muito falar”: é um tempo perdido para a ação ou, pior ainda, um pretexto cômodo para não fazer nada. Nas provações-tentações, a palavra incontrolada põe a culpa em Deus. Tiago opõe a ela a escuta (1,19b em contraste com 13), subentendendo que a escuta gera a ação.
Por isso, a língua deve ser dominada (1,26; 3,5-12), e o cristão é convidado com insistência a fazer coincidir o falar e o fazer (2,12). Alguém poderia, com efeito, contentar-se em confessar-se crente, mas a fé não se manifesta pela palavra somente, mesmo que seja a da confissão de fé: são necessários os atos de amor.
Também a sabedora se exprime menos pelas palavras do que pelos exemplos de boa conduta (3,13). E, depois, falar muito leva a dizer mal dos outros (4,11), e isto é colocar-se no lugar de Deus.
Tiago vai ao ponto de ver perigo no exercício do ministério da Palavra, função, ademais, necessária à comunidade cristã. Sem dúvida, ele mesmo é “mestre”, isto é, o equivalente do rabino judaico, e sabe de que fala quando recomenda: “Não queirais todos ser mestres”, porque isso implica responsabilidade que pesará muito no dia do juízo. É tão fácil “tropeçar em palavras” (3,1s).

TEMAS E PROBLEMAS PARA REFLEXÃO
A POBREZA

Tiago foi testemunha da tradição da Igreja de Jerusalém, cujos membros se chamavam simplesmente “os pobres” e cujos hábitos de partilha dos bens foram estabelecidos no livro dos Atos dos Apóstolos.
O autor estava preocupado com a questão da existência de ricos e pobres na comunidade cristã. A perda das riquezas era provação quase normal, porque a riqueza é como flor que murcha (1,10)! A cobiça está na origem do pecado (1,14s), como de todas as dissensões e conflitos (4,1s). A verdadeira religião consiste em assistir os órfãos e as viúvas (1,27). O exemplo escolhido para explicar em que consiste o preço pelas aparências é o da entrada de um rico e um pobre na assembléia (2,1-9). Para explicar o que são as obras da fé, Tiago escolhe o exemplo da ajuda concreta aos irmãos desprovidos de tudo (2,15-16).
Tiago aproveita várias ocasiões para sublinhar a dignidade dos pobres e a vantagem que a pobreza pode representar como se, para ele, existisse relação entre ser pobre e ser cristão. Para qualquer de condição humilde, ser cristão já é uma espécie de “exaltação” (1,9). Porque “Deus escolheu os pobres em bens deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino!” (2,5). Os verdadeiros ricos não são tidos como ricos para com Deus, pois o Senhor está do lado dos oprimidos.

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