sexta-feira, 13 de novembro de 2009

UNÇÃO DOS ENFERMOS (Tg.5.14-16)

Essa passagem é introduzida em Tg.5.13 com um convite à oração, como resposta para o sofrimento, e louvor a Deus com cantos, como resposta ao sentimento de alegria.
Mande chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o doente, e o Senhor o porá de pé; e se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados. Confessai, pois, uns aos outros, vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados (5,14-16).
Na pratica posterior da Igreja, a cura dos doentes pela unção feita por um sacerdote foi considerada um sacramento. Inevitavelmente em Tg.5.14-16 afetou os debates entre os reformadores e Roma sobre o número dos sacramentos. A Assembléia XIV do Concilio de Trento (DBS 1716-1719), definiu a extrema-unção como sacramento instituído por Cristo e publicado por Tiago, e decidiu que os presbíteros da Igreja que Tiago aconselha chamar não são simplesmente membros idosos da comunidade, mas sacerdotes ordenados pelo bispo. Alguns pontos acerca da afirmação precisam ser esclarecidos para facilitar o diálogo.
1- Trento declarou que a extrema-unção correspondia ao critério de “sacramento” que se desenvolveu na Idade Média. Não se alegou que a unção dos doentes era compreendida como um sacramento no século I. Entretanto, não dispomos de nenhuma prova de que o sacramento tenha sido usado tão cedo. Da mesma forma, decidiu-se que essa ação sagrada deveria ser administrada por aqueles que na igreja do século XVI, constituíam o clero, ou seja, sacerdotes ordenados, e não simplesmente membros mais velhos da comunidade leiga. Trento não declarou, embora os que estavam presente ao Concilio possam ter presumido que quando Tiago escreveu existiam claramente estabelecidas às funções de bispos e sacerdotes, bem como os ritos de ordenação.
2- Os presbíteros devem ser chamados para ajudar os doentes. Existia uma tradição de que tanto Pedro quanto Paulo realizaram curas (At 3,6;5,15;8-10;28,8). No desenvolvimento da estrutura eclesial, de modo particular na última terça parte do século I, aqueles que eram apontados ou selecionados como presbíteros na comunidade, assumiam algumas funções que antes ou em outro lugar eram desempenhadas por aqueles que reconhecidamente tinham um dom carismático. Assim, é bastante compreensível que o papel de fazer orações pela cura pudesse ser atribuído aos presbíteros.
3- Ungir com óleo em nome do senhor é a primeira coisa na seqüência do que se espera que os presbíteros façam. O óleo de oliveira era usado como remédio na Antiguidade. Lv 14,10-32 ordena a unção com óleo no ritual de purificação da lepra; Is 1,6 fala de feridas que são amolecidas ou aliviadas com o óleo; Jr 8.22 pressupõe o poder sanativo do bálsamo de Galaad. Mt 10.1 indica que a cura de doentes e enfermos era uma ordem. Por toda parte, em Tiago, existe eco da tradição de Jesus. Assim, a prática descrita em Tg.5,14-15 pode ter sido vista como uma continuação do que Jesus havia ordenado. Isso está implícito na realização de unção “em nome do Senhor”.
4- A oração da fé dos presbíteros sobre o enfermo o salvará, e o Senhor o levantará; e, se ele tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados (Tg5,15). A visita aos enfermos e a oração pelos amigos doentes eram encorajadas no Antigo Testamento (Sl 35,13-14). Orar a Deus pela cura de um doente tinha muitas vezes um acento especial porque o pecado era visto como raiz e causa da enfermidade. Por exemplo, os amigos que visitaram Jó queriam orar por e com ele, pedindo-lhe que reconhecesse seu pecado, para que assim Deus o pudesse curar. Tal crença é atestada no século II a.C. Uma continuação de ligação entre pecado e doença pode estar implícita em 1 Cor 11,.29-30, em que a profanação da eucaristia está associada a situação na qual muitos estão doentes, fracos e morrendo. Nos evangelhos, Jesus se apresenta como médico (Mt.9.12, Lc.4.23), e para aqueles que ele curava, ser “salvo” as vezes implicava tanto ser curado da enfermidade quanto receber o perdão dos pecados.
5- A relação de Tiago 5,6 “Confessai, pois, uns aos outros, vossos pecados, e orai uns pelos outros, para que sejais curados”, com o tema precedente é muito discutida. Desde os tempos da Reforma, em oposição à doutrina tridentina da extrema-unção administrada por sacerdotes ordenados, alguns têm considerado o v.16 uma especificação interpretativa dos vv.14-15: os presbíteros eram simplesmente membros mais idosos da comunidade, e a oração e a unção eram simplesmente a atividade destes, nada de autoridade ou do mesmo valor igual dos primitivos a “clero”, que se permite um termo não condizente com a determinação por ordem.

3 comentários:

  1. caros colegas.
    gostei muito tanto da apresentação como da disposição do blog de vcs. o assunto é muito interessante, foi bem apresentado e como todos é muito denso e longo, mas se reserva aqueles que realmente se interessarem.
    Deus abençoe vcs.
    Paulo Macedo

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  2. Quero Parabenizar a Equipe do qual eu faço parte, pelo Seu EXCELENTE desempenho na produção do texto da Carta de Tiago. Pois, o resultado da pesqusa foi satisfatório no sentido de estimular nos membros da equipe e principalmente nos visitante do Blog, o desejo de fazer uma leitura mais ampla em relação a Carta de Tiago. A todos meus PARABENS!!!

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  3. Ótima exposição. Texto didático, bem articulado e direcionado por questões relevantes. Sem dúvida quem ler este blog poderá olhar a carta de Tiago de modo mais ampliado!

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